sábado, 26 de novembro de 2011

"MEA CULPA"

Após inadvertida e tristemente presenciar uma cena muito infelizmente comum, recorro a essa maravilhosa ferramenta de divulgação para externar minha tristeza e meu grito de inconformação com o descaso com que é tratado um assunto de elevada importância social que é o da posse e do porte de arma de fogo.
Na tarde de ontem, cumprindo minhas tarefas rotineiras, estive, com os demais policiais civis da unidade policial que trabalho, na sede do Instituto Médico Legal de Bauru-SP, a fim de apresentarmos um grupo de pessoas presas para se submeterem ao exame de corpo de delito, exigido pela legislação para o seu encaminhamento e inclusão no sistema penitenciário. Ao adentrar ao local, pela sala de exames necropciais, me deparei com o cadáver de um menino, jazendo na primeira mesa adequada da sala, ainda sujo de sangue ressequido, principalmente no rosto. Como é normal na nossa rotina e devido à necessidade de se inteirar da maioria das ocorrências, perguntei ao funcionário que ali estava do ocorrido, o qual disse ser o corpo da vítima de um disparo de arma de fogo, efetuado pelo seu irmão mais velho, utilizando a arma do genitor.
A tragédia acontecera naquela manhã e como estávamos em diligências de apoio a unidades policiais de outras cidades, como sempre fazemos, não ficamos sabendo de imediato.
O fato que me faz redigir essas linhas é que não só temos mais uma ocorrência trágica envolvendo armas de fogo, mas especialmente o proprietário da arma ser um profissional de segurança, da carreira de AEVP – Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária, que contam, no seu curso de formação técnico-profissional, com a matéria armamento e tiro, abrangendo o uso, manuseio, manutenção e segurança de revólver, espingarda “pump action” e carabina semiautomática, no mínimo.
Não obstante outras carreiras profissionais relacionadas ao uso de armas de fogo, bem como o  cidadão comum possuidor de arma também produzirem eventos tristes decorrentes da negligência, imprudência ou imperícia no trato com a matéria, minha preocupação é com minha própria consciência, pois me sinto responsável por esses acontecimentos degradantes, em virtude da minha atividade.
Sinto-me responsável por não conseguir orientar tantos possuidores da armas quanto deveria, pois trabalho somente 14, 16 horas por dia.
Sinto-me responsável por estender as avaliações técnicas de manuseio de arma de fogo que sou responsável por aplicar, dos quarenta minutos suficientes, se me posicionasse como simples avaliador, por somente  duas horas e meia, contextualizando o assunto.
Sinto-me responsável por não insistir mais junto às entidades de classe, para que vejam a necessidade de ajudar a proporcionar treinamento e desenvolvimento aos seus pares, principalmente com relação à matéria.
Sinto-me responsável por me deixar vencer pelas negativas dos órgão formadores em abrir-me as portas, mesmo informalmente, para que possa discorrer sobre a localização de uma arma de fogo no contexto social, legal e de segurança.
Sinto-me responsável por não conseguir ter voz junto às mídias, argumentando o quanto é urgente que se discuta o assunto, sem preconceitos.
Sinto-me responsável por conseguir somente plantar uma semente no coração dos meus interlocutores, não sendo capaz de fazê-la brotar, adubando-a, regando-a e no momento certo, podando-a para que cresça e frutifique.
Sinto-me responsável por demorar tanto para poder ter acesso aos meus pares de maneira oficial, trazendo à lume outra linguagem, lembrando que antes de profissionais, somos seres sociais, permeados de potenciais e mazelas, necessitados de orientação.
Peço perdão aos Joões, aos Pedros, aos Paulos, aos Josés, aos Lucas, aos Wesleys, aos Adrianos, aos Fernandos, aos Franciscos, às Sandras, às Marias, às Aparecidas, às Patrícias, enfim, peço perdão pela minha negligência, assumindo um compromisso que deverá ser cobrado a qualquer momento, por qualquer pessoa que tiver acesso a essa exposição, de que não descansarei enquanto não vencer a inércia cultural que atinge o segmento e ver que o assunto é levado a sério pela sociedade.

ABAIXO ALGUNS CONTATOS REALIZADOS PERTINENTES ÀS COLOCAÇÕES.

Bauru, 26 de novembro de 2011

Maurilio Flavio Gamba

Um comentário:

  1. Caro amigo, parece que vivemos num mundo onde o ser humano é testado a cada dia. Por uma coincidência fui buscar um pouco de orientação neste sábado, tentando achar uma direção a seguir e preocupado com o despreparo de alguns colegas em relação as normas de segurança e manuseio de armas de fogo e me deparei com tamanha atenção e sabedoria que venho aqui agradecer a oportunidade que tive. Sem saber expus alguns acontecimentos que me deixaram preocupados e hoje, lendo seu artigo, vejo que você já se preocupa com isso a bastante tempo. O trágico acidente relatado reforça a necessidade de que sejam revistos os critérios de preparação desses agentes da segurança. Devemos zelar pela segurança da sociedade e não sermos agentes causadores de tamanha tragédia. Cabe a cada um tentar mudas primeiro nosso mundo interior, depois mudar o mundo. Agradeço mais uma vez por me dar a oportunidade.....abraços....Emerson

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