sábado, 26 de novembro de 2011

"MEA CULPA"

Após inadvertida e tristemente presenciar uma cena muito infelizmente comum, recorro a essa maravilhosa ferramenta de divulgação para externar minha tristeza e meu grito de inconformação com o descaso com que é tratado um assunto de elevada importância social que é o da posse e do porte de arma de fogo.
Na tarde de ontem, cumprindo minhas tarefas rotineiras, estive, com os demais policiais civis da unidade policial que trabalho, na sede do Instituto Médico Legal de Bauru-SP, a fim de apresentarmos um grupo de pessoas presas para se submeterem ao exame de corpo de delito, exigido pela legislação para o seu encaminhamento e inclusão no sistema penitenciário. Ao adentrar ao local, pela sala de exames necropciais, me deparei com o cadáver de um menino, jazendo na primeira mesa adequada da sala, ainda sujo de sangue ressequido, principalmente no rosto. Como é normal na nossa rotina e devido à necessidade de se inteirar da maioria das ocorrências, perguntei ao funcionário que ali estava do ocorrido, o qual disse ser o corpo da vítima de um disparo de arma de fogo, efetuado pelo seu irmão mais velho, utilizando a arma do genitor.
A tragédia acontecera naquela manhã e como estávamos em diligências de apoio a unidades policiais de outras cidades, como sempre fazemos, não ficamos sabendo de imediato.
O fato que me faz redigir essas linhas é que não só temos mais uma ocorrência trágica envolvendo armas de fogo, mas especialmente o proprietário da arma ser um profissional de segurança, da carreira de AEVP – Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária, que contam, no seu curso de formação técnico-profissional, com a matéria armamento e tiro, abrangendo o uso, manuseio, manutenção e segurança de revólver, espingarda “pump action” e carabina semiautomática, no mínimo.
Não obstante outras carreiras profissionais relacionadas ao uso de armas de fogo, bem como o  cidadão comum possuidor de arma também produzirem eventos tristes decorrentes da negligência, imprudência ou imperícia no trato com a matéria, minha preocupação é com minha própria consciência, pois me sinto responsável por esses acontecimentos degradantes, em virtude da minha atividade.
Sinto-me responsável por não conseguir orientar tantos possuidores da armas quanto deveria, pois trabalho somente 14, 16 horas por dia.
Sinto-me responsável por estender as avaliações técnicas de manuseio de arma de fogo que sou responsável por aplicar, dos quarenta minutos suficientes, se me posicionasse como simples avaliador, por somente  duas horas e meia, contextualizando o assunto.
Sinto-me responsável por não insistir mais junto às entidades de classe, para que vejam a necessidade de ajudar a proporcionar treinamento e desenvolvimento aos seus pares, principalmente com relação à matéria.
Sinto-me responsável por me deixar vencer pelas negativas dos órgão formadores em abrir-me as portas, mesmo informalmente, para que possa discorrer sobre a localização de uma arma de fogo no contexto social, legal e de segurança.
Sinto-me responsável por não conseguir ter voz junto às mídias, argumentando o quanto é urgente que se discuta o assunto, sem preconceitos.
Sinto-me responsável por conseguir somente plantar uma semente no coração dos meus interlocutores, não sendo capaz de fazê-la brotar, adubando-a, regando-a e no momento certo, podando-a para que cresça e frutifique.
Sinto-me responsável por demorar tanto para poder ter acesso aos meus pares de maneira oficial, trazendo à lume outra linguagem, lembrando que antes de profissionais, somos seres sociais, permeados de potenciais e mazelas, necessitados de orientação.
Peço perdão aos Joões, aos Pedros, aos Paulos, aos Josés, aos Lucas, aos Wesleys, aos Adrianos, aos Fernandos, aos Franciscos, às Sandras, às Marias, às Aparecidas, às Patrícias, enfim, peço perdão pela minha negligência, assumindo um compromisso que deverá ser cobrado a qualquer momento, por qualquer pessoa que tiver acesso a essa exposição, de que não descansarei enquanto não vencer a inércia cultural que atinge o segmento e ver que o assunto é levado a sério pela sociedade.

ABAIXO ALGUNS CONTATOS REALIZADOS PERTINENTES ÀS COLOCAÇÕES.

Bauru, 26 de novembro de 2011

Maurilio Flavio Gamba

CONTATO COM O SINDAEVPESP

Date: Wed, 24 Mar 2010 20:21:44 -0300
From: maflaga@pacem.com.br
To: presidencia@sindaevpesp.org.br
Subject: Preocupação

Boa noite, tomo a liberdade de contactar-lhe, pois vejo como derradeiro recurso para retroceder o que vejo com um processo mortal de predominância de empirismo.
Como representante de classe, pressuponho um comprometimento inerente da parte de Vossa Senhoria, portanto espero encontrar guarida para essa disposição.
Vejo com muita preocupação a falta de um programa sério de treinamento e desenvolvimento para a classe, e para tanto, disponibilizamos o vemos como adequado e eficiente.
Reproduzo abaixo, um contato que fiz com a EAP, disponibilizando esse trabalho e como não senti qualquer interesse, tento novamente com o sindicato.
RESPOSTA DO PRESIDENTE:
prezado  aevp
estamos  certo  do seu  conhecimento técnico
so  nao  estamos  entendendo  no  que poderíamos  ajuda-lo
como  sindicato.
um abraço

SINDICATO DOS AGENTES DE ESCOLTA E VIGILANCIA PENITENCIÁRIA DO ESTADO DE SAO PAULO-SINDAEVPESP.
RUA ERASMO BRAGA ,1042-  JD.CHAPADÃO -CIDADE CAMPINAS - SÃO PAULO
CEP.13.070.147-- FONE  19- 3365 24 00.-SITE
WWW.SINDAEVPESP.ORG.BR  
MINHA RESPOSTA:
Date: Fri, 26 Mar 2010 08:51:35 -0300
From: maflaga@pacem.com.br
To: presidencia@sindaevpesp.org.br
Subject: Res: RE: Preocupação

Bom dia sindicato dos agentes de escolta e vigilância penitenciária do estado de São Paulo.

Desculpe por não endereçar para uma pessoa física específica, já que Vossa Senhoria sequer assinou a mensagem  como tal.

Pelo visto minha preocupação é ainda mais justificável, pela disposição que Vossa Senhoria mostra.

Se Vossa Senhoria for o presidente do sindicato devo dizer que na minha opinião a classe está representada de forma inadequada.

Se Vossa Senhoria tivesse sequer a curiosidade de visitar nosso site, veria que não sou AEVP, mas Carcereiro.

Como poderia ver também no meu currículo, anexado à mensagem,  tive a honra de ser ASP, daí ao carinho especial que tenho, além de minha família estar em boa parte envolvida, pois muitos são ASPs.

Independentemente, mantenho minha disposição em oferecer uma alternativa séria e honesta para os "profissionais" da área quanto a treinamento e desenvolvimento.

Vossa Senhoria deve saber que aí em Campinas existe também um Instrutor de Armamento e Tiro credenciado pelo SINARM-DPF-MJ que é Policial Civil também e que com certeza poderia oferecer esse trabalho de forma confortável para os AEVPs da região.

Antecipando escusas por eventuais incômodos, reitero minha disponibilidade.
Maurilio Flavio Gamba
Instrutor Chefe
Espaço PACEM
Credenciado SINARM-DPF-MJ e DFPC-EB-MD

NOVA E DERRADEIRA RESPOSTA DO "PRESIDENTE":

PREZADO CARCEREIRO ,PRIMEIRAMENTE SE  ESTIVESSE  NA CONDICAÇÃO  DE AEVP AÍ  SIM, PODERIA  OPINAR  SOBRE  NOSSO  SINDICATO
COMO  PRESIDENTE  DO SINDICATO LUTO  PELA  MINHA  CATEGORIA .
QUANTO  A VISITAR  SEU  SITE , ESTOU  PREOCUPADO  COM  MINHA  CATEGORIA (aevp), NAO  SOMOS POLÍCIA.
ADEUS ,ESPERO  NAO RECEBER  MAS  E-MAIL  DO  SENHOR.
ANTONIO PEREIRA RAMOS
DIRETOR  PRESIDENTE

SINDICATO DOS AGENTES DE ESCOLTA E VIGILANCIA PENITENCIÁRIA DO ESTADO DE SAO PAULO-SINDAEVPESP.
RUA ERASMO BRAGA ,1042-  JD.CHAPADÃO –
CIDADE CAMPINAS - SÃO PAULO

CONTATO COM A ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA


 -------Mensagem original------- 
De: Maurilio 
Data: 23/03/2010 17:49:36 
Assunto: Proposta 

Boa tarde dona Bete.  
Conforme conversamos, segue breve currículo e certificado de credenciamento junto ao SINARM-DPF-MJ como instrutor de armamento e tiro. 
Devo dizer que é a coroação do trabalho de uma vida, já que há cerca de 18 anos, venho buscando informações julgadas adequadas, processando-as e as repassando para os colegas profissionais segurança. 
Com esse credenciamento, que me habilita a aplicar a avaliação técnica de manuseio prevista na legislação atual, posso, aproveitando essa exigência, sugerir uma reflexão acerca do tema, extremamente controvérso e ao mesmo tempo necessário para que se admita a inserção de uma arma de fogo no contexto da segurança pessoal. 
Infelizmente, por várias razões ainda predominam os indivíduos que confundem ou pior, preferem a certificação empírica em detrimento da real qualificação. 
Parafraseando autores renomados de publicações voltadas para o segmento de gestão de recursos humanos, lembramos que o que faz realmente a diferença se vamos ou não "sobreviver", no nosso caso literalmente, é o nosso conjunto de "CHA", ou seja, os nossos conhecimentos, nossas habilidades e nossas atitudes. 
Disponibilizamos um programa de treinamento sério e honesto, trazendo o que há de mais moderno, dentro dos nossos padrões, em termos de materiais voltados para o treinamento de armamento e tiro e metodologia de ensino. 
Com a certeza de contar com sua atenção e consideração, agradecemos e reiteramos nossa disponibilidade.
  
Maurilio Flavio Gamba
Instrutor Chefe
Espaço PACEM
Credenciado SINARM-DPF-MJ e DFPC-EB-MD


APESAR DE SOLICITADO, NÃO FOI CONFIRMADO SEQUER O RECEBIMENTO DO E-MAIL, PORTANTO DOIS DIAS DEPOIS, SOLICITEI A CONFIRMAÇÃO DE RECEBIMENTO EM OUTRO E-MAIL:

"Maurilio" <maflaga@pacem.com.br> em 25/03/2010 17:12:49
 Para: <gviana@sp.gov.br
Assunto: Fw: Proposta

Texto da Mensagem

Boa tarde, pode confirmar o recebimento e qual foi a impressão?

Grato

Maurilio Flavio Gamba
Instrutor Chefe
Espaço PACEM
Credenciado SINARM-DPF-MJ e DFPC-EB-MD

RESPOSTA
 
Data: 26/03/2010 13:09:37
Para: Maurilio
Assunto: Re: Fw: Proposta

ok, recebi, e passei para a Dietora da Escola.

Atenciosamente

Gisebete Mendes Viana
Diretor Técnico II
Escola de Administração Penitenciária Dr Luiz Camargo Wolfmann - CFAASP
Tel.: (0xx11) 2221-3268 PABX - 2221-0319/0320 Ram. 241

TREZE DIAS DEPOIS, INSISTINDO E SUGERINDO UM CONTATO PESSOAL, QUE NO MÍNIMO POR QUESTÃO DE EDUCAÇÃO, PODERIA SER FEITO, RECEBI A SEGUINTE RESPOSTA, ENCERRANDO O ASSUNTO:

"Maurilio" <maflaga@pacem.com.br> em 07/04/2010 13:47:31
Assunto: Res: Re: Fw: Proposta
Texto da Mensagem

Boa tarde dona Bete, desculpe a insistência, mas será que uma visita nossa à Escola seria bem vinda?
Estaremos na sexta feira, dia 16 próximo em São Paulo e se achar adequado, podemos marcar.

Grato

Maurilio Flavio Gamba 
Instrutor Chefe
Espaço PACEM
Credenciado SINARM-DPF-MJ e DFPC-EB-MD

A RESPOSTA VEIO RÁPIDA:

09/04/2010  09:58:02

Senhor Murilo,
Encaminhei seu curriculo à Diretora da Escola para análise e após, ela me disse que já temos um convênio firmado com a Polícia Federal para Cursos e Treinanamentos, mas de qualquer forma, quem sabe para um outro evento quando da necessidade desta Escola.
Agradeço sua preocupação e colaboração para com esta Escola.

Atenciosamente

Gisebete Mendes Viana
Diretor Técnico II
Escola de Administração Penitenciária Dr Luiz Camargo Wolfmann - CFAASP
Tel.: (0xx11) 2221-3268 PABX - 2221-0319/0320 Ram. 241

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ANJO DA GUARDA

Quem cuida de seu filho quando ele não está sob seus olhos?
Você diz que, na escola, os professores são os responsáveis; que em seu lar, você tem uma babá igualmente responsável.
Enfim, você sempre acredita que alguém, quando você não estiver por perto, estará de olho nele.
Parentes, amigos, contratados à parte, há, também, uma proteção invisível que zela por seu filho.
Você pode dizer que é seu anjo de guarda, seu anjo bom. A denominação, em verdade, não importa.
O que realmente se faz de importância é esta certeza de que um ser invisível debruça sua atenção sobre seu filho, onde quer que ele esteja.
E também sobre você. Não se trata de uma teoria para consolar as mães que ficam distantes de seus filhos longas horas.
Ou para quem caminha só nas estradas do mundo. Refere-se a uma verdade que o homem desde muito tempo percebeu.
Basta que nos recordemos de gravuras antigas que mostram crianças atravessando uma ponte em mau estado, sob o olhar atento de um mensageiro celeste.
Ou que evoquemos o livro bíblico de Tobias, onde um anjo acompanha o jovem em seu longo itinerário, devolvendo-o ao pai zeloso, são e salvo.
É doce e encantador saber que cada um de nós tem seu anjo de guarda. Um ser que lhe é superior, que o ampara e aconselha.
É ele que nos sussurra aos ouvidos: Detenha o passo! Acalme-se! Espere para agir!
Ou nos incentiva: Vá em frente! Esforce-se! Estou com você!
É esse ser que nos ajuda na ascensão da montanha do bem. Um amigo sincero e dedicado, que permanece ao nosso lado por ordem de Deus.
Foi Deus quem aí o colocou. e ele permanece por amor a Deus, desempenhando o que lhe constitui bela, mas também penosa missão.
Isso porque em muitas ocasiões, ele nos aconselha, sugere e fazemos ouvidos surdos. Ele se entristece, nesses momentos, por saber que logo mais sofreremos pela nossa rebeldia.
Mas não afronta nosso livre-arbítrio. Permanece à distância, para agir adiante, outra vez, em nova tentativa.
Sua ação é sempre regulada, porque se fôssemos simplesmente teleguiados por ele não seríamos responsáveis pelos nossos atos.
Também não progrediríamos se não tivéssemos que pensar, reflexionar e tomar decisões.
O fato de não o vermos também tem um fim providencial. Não vendo quem o ampara, o homem  confia em suas próprias forças.
E batalha. Executa. Combate para alcançar os objetivos que pretende.
Não importa onde estejamos: no cárcere, no hospital, nos lugares de viciação, na solidão, ele sempre estará presente.
Esse anjo silencioso e amigo nos acompanha desde o nascimento até a morte. E, muitas vezes, na vida espiritual.
E mesmo através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do Espírito.
*   *   *
Você pode ter se transviado no mundo. Quem sabe, perdido o rumo dos próprios passos.
Pense, no entanto, que um missionário do bem e da verdade, que é responsável por você, pela sua guarda, permanece vigilante.
Se você quiser, abra os ouvidos da alma e escute-o, retomando as trilhas luminosas.
Ninguém, nunca, está totalmente perdido neste imenso universo de almas e de homens.

sábado, 17 de setembro de 2011

Utilidade

 
 
O ser humano possui inúmeras necessidades que precisam ser atendidas para se sentir pleno e feliz.
Algumas são muito elementares e perceptíveis, como alimentação, saúde e segurança.
Outras são mais sutis, mas nem por isso menos importantes.
Por exemplo, sentir-se acolhido e valorizado.
Dentre essas necessidades mais sofisticadas, encontra-se a de ser útil.
Por vezes, ela não é entendida nem por aquele que experimenta a sua carência.
No contexto da sociedade atual, abundam os passatempos e a busca pelo ócio.
As pessoas gastam longas horas em jogos, reais ou virtuais, passatempos e diversões.
São muito comuns as referências a festas que duram a noite toda.
De outro lado, valoriza-se bastante ter a cada dia mais tempo disponível.
Idealizam-se feriados prolongados, viagens e passeios.
A um olhar superficial, parece que a vida humana se destina primordialmente ao recreamento e ao nada fazer.
Contudo, entre festas e folgas, as crises existenciais e as doenças psicológicas se multiplicam.
Não se trata de negar a importância do descanso e das atividades lúdicas.
Mas de situá-las em seu devido lugar.
São o contraponto da atividade produtiva, não a finalidade do existir.
A rigor, só descansa quem trabalha.
O ócio, em si mesmo, é vazio e exasperante.
Nada substitui a sensação de plenitude de quem cumpriu o dever, ao terminar uma tarefa.
A consciência tranquila do dever bem cumprido constitui um prêmio em si só.
Quem logra tornar-se útil sente-se harmonizado com o coletivo.
Percebe que ocupa o seu lugar no mundo e goza de um automático bem-estar.
Assim, tarefas e deveres nobres não constituem obstáculo à felicidade.
Não há lucro algum em evitá-los ou minimizá-los, enquanto se gasta a vida com futilidades.
Os deveres são parte essencial de um existir equilibrado e pleno.
De outro lado, é importante não confundir utilidade com grandeza.
Quem busca a grandeza costuma se comparar com os semelhantes.
Com isso, tende a se angustiar.
Afinal, sempre há seres com maior e menor preparo e com tarefas correspondentes ao seu talento.
Em vez de se tranquilizar ao atender seus deveres com competência, rói-se de inveja de quem é convocado para ocupar posições de maior destaque.
Também corre o risco de desprezar aquele que desempenha tarefas singelas.
Assim, o relevante é identificar os seus compromissos e empenhar-se em bem executá-los.
Cuidar dos próprios deveres com seriedade e competência.
Apreciar a sensação de ser útil e produtivo.
Pensemos nisso.

sábado, 13 de agosto de 2011

Ao meu pai


Oito de Agosto de mil novecentos e oitenta e quatro. Rua Prudente de Moraes, oitocentos e quarenta e nove, fundos, Dois Córregos. Casa simples, a porta que existia, era fechada à tramela e nos quartos, cortinas produzidas pela Dona Julieta dava a privacidade necessária. Da cama, vislumbrávamos o madeiramento, o telhado e às vezes o céu,  sem obstáculos. No quarto pequeno, uma simples cama de casal  escondendo a comadre e o urinol e a penteadeira tomada pelos remédios e água. O criado-mudo apoiava o rádio, sempre sintonizado em ondas curtas, o maço de Continental, a caixa de fósforos e o cinzeiro sempre limpo. Dezoito horas. A Ave Maria, entoada em algumas emissoras até hoje, chegava ao "agora e na hora de nossa morte", acompanhada por movimentos labiais acanhados e os olhos, já dispersos e marejados, deixaram rolar uma lágrima, exatamente no momento do "amém", seguido pelo esvaziamento definitivo do tronco e pela midríase, concluíndo o desenlaçe imediato.
Quarenta e três anos vividos em grande parte, em nosocômios.  Amaral Carvalho, São Judas e Abdalla Atique eram nomes que ouvia frequentemente, sabendo anos depois tratarem-se de hospitais na cidade de Jaú e um médico que o tratava, respectivamente . Seis cirurgias no estômago mais uma no fêmur direito fraturado em uma queda, totalizando sete.
Nos períodos de convalescência em casa, muitas pessoas o procuravam para buscar orientações e indicações sobre aposentadoria e saíam dali contentes, deixando-o exausto mas realizado.
Profissional de administração, mais precisamente contabilidade, foi conquistado pelo alcoolismo e o tabagismo, que o fizeram aposentar-se muito cedo, por invalidez. Invalidez. Esse termo grosseiro até hoje utilizado para definir uma condição relativa, mas não uma disposição, somava-se à falta de conhecimento da área psicossocial, a praticamente inexistência da terapia ocupacional e a dificuldade de expor sentimentos que fizeram-no enredar-se no vício de forma a ser dominado por ele, sucumbindo.
Apesar de tudo, nada apaga as conversas variadas na cama, esperando a Dona Julieta chegar da Barra, as batatinhas fritas, cortadas em rodelas bem fininhas uma a uma com aquela faquinha de serra, mergulhadas em salmoura durante cinco minutos ( tinha que ser cinco minutos, nem mais nem menos) e secas em guardanapos de pano que tinham que ser lavados antes da matriarca chegar, a fim de evitar broncas carinhosas.
Outra passagem inesquecível é a de quando a Dona Julieta, minha mãe, cabeleireira oficial da vizinhança, resignada como sempre, ouvia uma freguesa reclamar da demora e ameaçando não voltar mais no salãozinho (era assim que era chamado, no diminutivo mesmo) quando o seu Luis, meu pai, no meio da empreitada da lavagem da louça do almoço, com um prato todo ensaboado na mão esquerda e a bucha também ensaboada na direita esbravejou: -"Faça o favor de se retirar então e não apareça mais aqui se for para faltar com a educação com minha esposa, pois sou eu quem manda aqui e não vou mais deixar a Julieta lhe atender!". Dá para imaginar a cena, não é? Foi demais!

"Faça o que eu mando. Não faça o que eu faço" ele dizia com o olhar sério e doce.

Meu pai, meu mestre, Deus te guarde. Especialmente nesta época em que os pais são recordados pelos filhos, que os brindam com presentes.
Meus irmãos e eu te brindamos com a prece da nossa gratidão:

Senhor LUIZ VALDOMIRO GAMBA,
Obrigado por nos terdes dado a vida,
Obrigado por nos terdes ensinado a bem vivê-la.

Em homenagem ao senhor, publico essas linhas.

Bauru, 13 de agosto de 2011

Seu caçula
Maurilio Flavio Gamba

domingo, 3 de julho de 2011

Balas “Dum Dum” “Uma delícia de estouro”

O infame trocadilho acima poderia ser até a propaganda de uma guloseima, se não fosse uma das renitentes e cretinas crendices balísticas de nosso meio, a das “balas Dum Dum” que explodem dentro do corpo, mito esse perpetuado, pasmem, até pela imprensa dita “policial” (mas bem leiga como tive oportunidade de ver essa semana na fala de um conhecido “comentarista policial”), razão pela qual resolvi escrever este artigo.

Não me incomoda em nosso meio a persistência de alguns mitos e termos mais popularescos de uso corrente, como por exemplo incomoda a muitos instrutores de tiro e militares o uso do termo “bala” ao invés de projétil, mesmo porque as origens deste termo se perdem na idade antiga. Vem do verbo grego “ballo” (βλλω - lançar, atirar), e daí se deriva também Balista, nome de antiga máquina de guerra. A ciência que estuda os projéteis não leva o nome de balística? E ainda hoje existem termos similares ao nosso “bala”, em língua inglesa (“bullet)” e em francês (“balle”). Então “bala“ como designativo de projétil pra mim não é problema.

Sobre especificamente as “balas Dum Dum”, mais um dos nossos muitos mitos oplológicos que de fato tem raízes históricas verdadeiras, mas via de regra como tanto outros, foi absolutamente distorcido e acrescido de detalhes que pouco tem a ver com a real história do fato ou conceito, isto sim é problemático pois é um desserviço a nossa área técnica. Alguns chegam a dizer que o nome dum-dum na verdade é a onomatopéia de dois estampidos, um o do disparo da arma, e o outro o da explosão do projétil no alvo!!

Sabe-se lá como isto se espalhou entre nós, mas o que de fato nos conta a história é que o conceito de cartucho "Manstopper" (literalmente “parador” de homem) surgiu com os ingleses em suas guerras coloniais pela necessidade de combater inimigos corpulentos e bastante excitados, "selvagens” (na visão dos educados ingleses) que teimavam em não cair mesmo quando atingidos por vários disparos de arma curta (e até por armas longas como depois a experiência mostraria, deste mesmo mal os americanos sofreriam nas Filipinas dezenas de anos depois). Assim surgiram armas e calibres específicos para os teatros de guerra britânicos, exóticos e hostis na África e Ásia como Índia, Paquistão, Afeganistão, Egito, Sudão, Quênia, Rodésia, Transvaal, exemplo disto são os revólveres Webley Nº 1 "Boxer" de 1866 e o revólver Bland-Pryse que disparavam seis tiros do mastodônico calibre .577 Boxer de fogo central (o calibre 14,6 mm x 25,5 R, código DWM 274, tinha o mesmo calibre do rifle regulamentar) que obviamente tinha sido projetado para ter condições de deter o mais forte dos adversários.

Os famosos e infames (na imaginação popular) projéteis “Dum Dum”, foram criados no final dos anos 1890 no arsenal da British Royal Artillery, situado na cidade do mesmo nome no Nordeste da Índia próximo a Calcutá, no estado de West Bengal. O arsenal de Dum Dum era administrado pelo Capitão Bertie Clay, que segundo consta desenvolveu os projéteis em questão. Sua origem se deu durante as lutas de um golpe de estado no Paquistão em 1895, pois para restabelecer o domínio britânico na região foram enviadas tropas inglesas armadas com fuzis Lee-Metford Mark I em calibre 7.7 mm (o famoso calibre .303 ainda usando pólvora negra, os Lee foram adotados em 1888 substituindo o fuzil de serviço monotiro cal. 450 Martini-Henry). Estas tropas relataram na sua volta a Índia que estas novas armas se mostraram eventualmente ter insuficiente “Stopping power” para deter os inimigos das tribos Chitrali. Os estudos no arsenal, ao contrário do que se pensa, se restringiram apenas a um modelo de projétil do fuzil .303 com a jaqueta de níquel removida (cortada aproximadamente a 6 mm da ponta para revelar o núcleo de chumbo macio), podendo ser assim considerada a precursora das modernas munições tipo jaquetada de ponta mole - JSP (jacketed soft-point). Comumente se diz que lá se desenvolveram projéteis de ponta cortada em cruz, com jaquetas debilitadas, vazadas etc. Na verdade alguns destes tipos de projéteis já existiam nos fuzis esportivos Express, sendo na maioria das vezes experimentações para se reduzir o peso das pontas e aumentar a velocidade final, e que como efeito colateral se revelaram eficazes em se expandir bem em caça leve, mas mal em caça pesada. Apesar de ter tido apenas uso local e não oficial, o conceito de munição expansiva criado em Dum Dum perdurou nas oficiais .303 do padrão MK III (adotadas em 1897 tinham a camisa cortada expondo o núcleo de chumbo na ponta do projétil) e nas Mark IV e V, estas legítimas ponta-oca desenvolvidas na Inglaterra de forma independente no Arsenal de Woolwich, e tornadas padrão em 1899. O tipo Mark IV foi usado em Omdurman em 1898 com resultados satisfatórios, chegando segundo consta na emergência os soldados britânicos a remover o topo das jaquetas da munição padrão Mark II convertendo-as assim em improvisados tipos dum dum.

Embora os ferimentos causados pelas novas munições expansivas incrivelmente fossem menos severos que os provocados pelos antigos e brutais projéteis de chumbo sólido calibre .450 Martini-Henry, a Convenção de Haia de 1899 os proibiu a pedido da delegação alemã, que alegou motivos humanitários (durante a Primeira Guerra Mundial os alemães acusaram os Belgas de ainda usar munição expansiva em combate) encerrando-se definitivamente assim o capítulo de munições expansivas para uso militar.

No campo das armas curtas a experiência inglesa nas colônias criou em 1898 o .455 Webley Mark III, um cartucho dito "Manstopper" que possuía discreta ponta oca de chumbo que se deformava no momento do impacto, e a sua base oca (hollow base) ajudava-o a se ajustar melhor ao raiamento do cano. Esta carga foi removida de serviço em 1900, substituída pela anterior MK II pontuda, e logo após (1912) entraria em uso a .455 Mark IV na prática um projétil "wadcutter", saindo de serviço antes da Primeira Guerra Mundial, também por causa da Convenção de Haia.

“Dum Dum” à Brasileira

O uso do termo "Dum-Dum" ficou inegavelmente associado a projéteis expansivos já entre os soldados ingleses da época e continuou sendo usado para designar qualquer tipo de projétil EXPANSIVO (e não EXPLOSIVO como se apregoa por aí). Tantas vezes ouvi este comentário, principalmente de pessoas mais idosas mostrando orgulhosas seus exemplares de antiga e modesta munição canto vivo CBC (wadcutter)... O projétil canto-vivo durante muitos anos foi no Brasil a única opção ao tipo ogival (só existiam estas duas pontas), surgindo daí diversas lendas locais. Mas quem teria sido o desconhecido “gênio“ que associou a este tipo de cartucho, bom para tiro ao alvo (mas se tivesse uma carga de projeção maior certamente seria um bom "Manstopper" pela área frontal plana) as improváveis qualidades balísticas de EXPLODIR quando atingisse o alvo? Fato incompreensível, mesmo porque as munições de uso civil no mercado mundial excetuando-se a Exploder americana não portam substâncias explosivas em seu interior. Será que o charmoso estojo niquelado com a ponta totalmente inserida em seu interior provocava esta mística? Fetiche oplológico? Vai saber. A nossa inventividade e o “jeitinho brasileiro” (para o mal inclusive) produziu uma versão modificada do canto-vivo tradicional, pois dizem que alguns desmontaram a munição original e remontaram-na com a base oca para frente criando assim a variação deste cartucho conhecida curiosamente como “Diabo Paraibano”, com efeitos úteis de penetração e expansão obviamente desconhecidos e incertos, pois a espessura do projétil na base oca era bem menor. Um remendo evidente na tentativa de se melhorar a performance da munição de defesa antes das pontas JHP e JSP chegarem ao nosso mercado, e mesmo estes tipos hoje depois de passados 110 anos e com toda a informação disponível, ainda são confundidos com as místicas ogivas indianas Dum Dum, no nosso caso poderia dizer jocosamente confundidas com “uma delícia de estouro no alvo”. Esperamos ter contribuído para ajudar a diminuir esta resistente lenda oplológica nacional passada de geração a geração por via oral como toda boa lorota que se preza, já tendo entrado há um bom tempo para o nosso “folclore ” armamentista.

http://vitrinedaarmaria.blogspot.com/2009/09/balas-dum-dum-uma-delicia-de-estouro.html#comments

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Serviço

Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito,
se não houvesse uma roseira para plantar,
uma iniciativa para lutar!
Não te seduzam as obras fáceis.
É belo fazer tudo que os outros se recusam a executar.
Não cometas, porém, o erro de pensar que só tem merecimento executar as grandes obras.
Há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa.
Arrumar uns livros.
Pentear uma criança.
Aquele é quem critica, este é quem destrói;
sê tu quem serve.
Servir não é próprio dos seres inferiores: Deus, que nos dá fruto e luz,serve.
Poderia chamar-se: O Servidor.
E tem os Seus olhos fixos nas nossas mãos e pergunta-nos todos os dias:
S
erviste hoje?
*   *   *
Gabriela Mistral, poetisa chilena, em seu belíssimo poema nos emociona com uma
proposta de vida maravilhosa.
O Poeta dos poetas, certa vez também afirmou que quem desejasse ser o primeiro,
fosse o servo de todos.
Servir é a receita infalível da felicidade presente e futura.
Presente, pois quem serve, quem se doa, quem ajuda, já recebe no coração a paz
 que tal ato propicia. Uma paz sem igual: a paz da consciência tranquila.
Futura, pois quem serve semeia concórdia, fraternidade – merecendo colher o
mesmo nos passos seguintes da existência imortal do Espírito.
Todo dia nos apresenta diversas oportunidades de servir. Que possamos estar
 atentos a elas, e não desperdiçar nenhuma chance, nenhuma dessas experiências
enriquecedoras.
Parafraseando a poetisa, perguntamos: Você já serviu hoje?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Doença da Alma

Código Internacional de Doenças (OMS) inclui influência dos Espíritos
 - Medicina reconhece obsessão espiritual
 Por Dr. Sérgio Felipe de Oliveira*
 
A obsessão espiritual como doença_da_alma, já é reconhecida pela Medicina.
Em artigos anteriores, escrevi que a obsessão espiritual, na qualidade de
doença da alma, ainda não era catalogada nos compêndios da Medicina,
por esta se estruturar numa visão cartesiana, puramente organicista do
Ser e, com isso, não levava em consideração a existência da alma, do
espírito. 
 
No entanto, quero retificar, atualizar os leitores de meus artigos com essa
 informação, pois desde 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu
o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do
aspecto físico, mental e social. Antes, a OMS definia saúde como o estado
de completo bem-estar biológico, psicológico e social do indivíduo e
desconsiderava o bem estar espiritual, isto é, o sofrimento da alma; tinha,
portanto, uma visão reducionista, organicista da natureza humana, não
a vendo em sua totalidade: mente, corpo e espírito.
 
Mas, após a data mencionada acima, ela passou a definir saúde como
o estado de completo bem-estar do ser humano integral: iológico, psicológico
e espiritual.
 
Desta forma, a obsessão espiritual oficialmente passou a ser conhecida na
Medicina como possessão e estado_de_transe, que é um item do
CID - Código Internacional de Doenças - que permite o diagnóstico da
interferência espiritual Obsessora.
 
O CID 10, item F.44.3 - define estado de transe e possessão como a perda
transitória da identidade com manutenção de consciência do meio-ambiente,
fazendo a distinção entre os normais, ou seja, os que acontecem por
incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados
por doença.
 
Os casos, por exemplo, em que a pessoa entra em transe durante os cultos
religiosos e sessões mediúnicas não são considerados doença.
 
Neste aspecto, a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto nos
transtornos mentais psiquiátricos - nesse caso, seria uma doença,
 um transtorno dissociativo psicótico ou o que popularmente se chama
de loucura bem como na interferência de um ser desencarnado, a Obsessão
 espiritual.
 
Portanto, a Psiquiatria já faz a distinção entre o estado de transe
normal e o dos psicóticos que seriam anormais ou doentios.

de Psiquiatria - DSM IV - alerta que o médico deve tomar cuidado para
não diagnosticar de forma equivocada como alucinação ou psicose, casos
 de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou
ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma
 alucinação ou loucura.

 que coordena a cadeira (HOJE OBRIGATÓRIA) de Medicina e Espiritualidade.
 
Na Psicologia, Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, estudou o caso de
uma médium que recebia espíritos por incorporação nas sessões espíritas.
 
Na prática, embora o Código Internacional de Doenças (CID) seja conhecido
 no mundo todo, lamentavelmente o que se percebe ainda é muitos médicos
rotularem todas as pessoas que dizem ouvir vozes ou ver espíritos como
 psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas.
 
Em minha prática clínica (também praticada por Ian Stevenson), a grande
maioria dos pacientes, rotulados pelos psiquiatras de "psicóticos" por
ouvirem vozes (clariaudiência) ou verem espíritos (clarividência), na verdade,
 são médiuns com desequilíbrio mediúnico e não com um desequilíbrio mental,
psiquiátrico. (Muitos desses pacientes poderiam se curar a partir do
momento que tivermos uma Medicina que leva em consideração o Ser Integral).
 
Portanto, a obsessão espiritual como uma enfermidade da alma, merece ser
 estudada de forma séria e aprofundada para que possamos melhorar a qualidade
de vida do enfermo.
*Dr. Sérgio Felipe é médico psiquiatra que coordena a cadeira de
Medicina e Espiritualidade na USP.
Na Faculdade de Medicina DA USP, o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico,
O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana